Eu tô exausta!

"O Coro suplica às divindades da morte que concedam um fim pacífico a Édipo."

Será que não compensaria mais suplicar a outras divindades que Édipo não morra? Ou quem sabe só chegar no Édipo e falar “ô, na moral, fica quietinho aí, não vai caçar mais encrenca”?

Não é por nada, é que eu só consigo pensar que a morte dá muito trabalho. Nunca mais esqueço de quando meu avô morreu e minhas tias tinham tanta coisa pra se preocupar que esqueceram de acionar a funerária. Quando o corpo chegou não tinha mais quase ninguém pra velar (mas todo mundo elogiou tanto o velório que a tia Lica hoje trabalha com organização de eventos).

Sei lá, é que eu tô numa vibe muito prática ultimamente, deve ser a canseira do Mestrado.

Tô tão cansada que até ver alguém resolvendo problemas me cansa. Comecei a criticar tudo o que leio e assisto bem mais do que criticaria normalmente, mas não é culpa minha: é dos escritores, eles que complicam muito as coisas.

Eu tive que ler três obras de Shakespeare pra um artigo e no fim não conseguia começar o artigo porque tudo o que vinha à minha mente era que com um pouco de bom-senso toda essa merda poderia ter sido evitada!

Na verdade, como eu tô simplificando a minha vida (e também por estar exausta), eu não li as obras, tava muito cansada, então li os resumos num livrinho que eu tenho chamado “Resumos da Obra Completa de Shakespeare”. Não era o ideal, mas deu pra entender que com um pouco de bom-senso todas essas tragédias poderiam ter sido evitadas.

E por falar em tragédia, os gregos também complicavam demais as coisas. O que custa perguntar antes de brigar na corte de um rei sanguinário, matar um estrangeiro numa encruzilhada ou lançar seu exército em excursão contra outra cidade? Talvez perguntar evite criar um desafeto, matar alguém ou começar uma guerra que vai durar gerações.

E como eu cheguei às tragédias gregas se eu tô numa vibe de simplificar a minha vida? Bom, a culpa é do Mestrado. A culpa de tudo é do Mestrado.

Eu tinha um artigo pra escrever sobre tragédias gregas. “Ah, Verônica, mas não era sobre Shakespeare?”. Pois é: eu estava escrevendo o artigo sobre a trilogia tebana (três peças escritas pelo dramaturgo grego Sófocles) quando, no meio do caminho, senti que tinha alguma coisa errada, peguei meu caderno e vi que o meu artigo era sobre Shakespeare.

Tudo bem, eu podia ter prestado mais atenção, mas eu tô exausta, e o professor também não precisava complicar tanto. Por que caralhos passar temas diferentes?! Isso é um Mestrado, qual é o medo dele: que a gente copie de um colega mais chegado só mudando o estilo de escrita e fazendo pequenas modificações ao longo do texto?

Tá. Pensando bem, eu também passaria temas diferentes.

Enfim. Fiquei tão puta (e tava tão cansada) que decidi não ler as peças na íntegra. Guardei meu livrinho com os resumos das tragédias gregas e peguei o livro de resumos da obra de Shakespeare. Só pra descobrir que complicar demais as coisas não era exclusividade da antiguidade.

De drama já basta minha vida. Pra que tanto conflito nessas histórias?

Aí você me diz: mas Verônica, o conflito é o motor da tragédia, o elemento básico da dramaturgia, sem ele nem existiriam esses textos!

Melhor ainda. Um artigo a menos pra escrever. Eu tô exausta!

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